quarta-feira, 30 de julho de 2008

Os limites do Capitalismo - Wladimir Pomar

No estudo do capital, Marx usou o método dialético como instrumento dedissecação da mercadoria, a célula mais comum, mais simples euniversal desse modo de produzir. Descobriu seus pólos contraditórios(valor de uso e valor de troca) e, partindo destas contradiçõesbásicas e de seus desdobramentos, acabou por descobrir a mais-valia,como a proteína responsável pela vida e reprodução do próprio capital.
Analisando esse processo de reprodução, Marx deduziu que o capital, àmedida que se desenvolve e acumula, tende a gerar uma contradiçãoantagônica entre a apropriação privada dos meios de produção e dariqueza gerada e as necessidades sociais.
Por um lado, o capital tende a elevar a um alto grau a capacidadeprodutiva da humanidade. Esta, para chegar ao capitalismo, teve quepassar por um longo processo histórico. Criou a propriedade privadados meios de produção (relações de produção) ao saltar do caça e dacoleta para a agricultura. Com isso, transformou os valores de uso emvalores de troca (mercadorias) e, aos trancos e barrancos, gerou umvasto conjunto de instrumentos de cálculo desses valores de troca(mercado), implantou a divisão social do trabalho (classes sociais), e criou o Estado (regulador da luta entre as classes).
Deu surgimento ao capital, saltando da agricultura para a indústria, ealcançando um alto nível de desenvolvimento. Pela primeira vez, numahistória de milênios, a humanidade pode contar com uma capacidadecientífica, tecnológica e produtiva, que satisfaça às necessidades deseus membros.Porém, ao mesmo tempo, o capital tende a reduzir sua taxa média de lucro e a aumentar a massa humana desprovida de meios de produção e decondições de trabalho. Concentra e centraliza, num pólo, uma imensamassa de riqueza e poder e, no outro, uma imensa massa pobre emiserável.
Do ponto de vista social, cria um absurdo de difícillegitimação. Do ponto de vista econômico, gera uma situação em que nãomais haverá condições de reproduzir e acumular novas riquezas. Comisso, o capital se verá na contingência, ainda por cima, de manteraqueles que antes eram a fonte de produção de sua riqueza, ou adeixá-los morrer na miserabilidade.
Para Marx, seguindo essa dialética de desenvolvimento do capital, aforma de resolver aquela contradição consiste em transformar apropriedade privada dos meios de produção em propriedade social, reorganizando o trabalho e a distribuição da riqueza, de acordo com asnecessidades humanas. Os bens seriam apropriados por seu valor de uso,e o mercado, assim como as classes e o Estado, deixariam de ser umanecessidade.Em outras palavras, segundo a teoria de Marx, é o capital que criaseus próprios limites e as condições de sua transformação numasociedade comunista.
Mas Marx não considerava que tal transformaçãopode ocorrer espontaneamente. Com base na história das sociedadeshumanas, desde que surgiram no palco da história, Marx também deduziuque a transformação de um tipo de sociedade ou de uma formaçãoeconômico-social em outra só se dava através da luta entre as classesque a compunham.Desse modo, a transformação do capitalismo em comunismo também sópoderia ocorrer através da luta, econômica, social e política, entreas classes que compõem a sociedade capitalista. Não por acaso, elededuziu que revoluções comunistas só poderiam acontecer em paísescapitalistas desenvolvidos.
Wladimir Pomar é analista político e escritor.

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